Como começou o projeto Jarred & Displaced?
O projeto Jarred & Displaced começou quando me anunciaram que ia ser pai. A notícia deixou-me muito nostálgico e fez-me pensar na minha infância. Senti uma certa ansiedade sobre o passado e sobre o facto de que aqueles tempos nunca mais iriam voltar, devido às grandes mudanças que estavam para vir. Com este projeto, consegui regressar às paisagens da minha infância, aos sentimentos por elas evocados, assim amenizando a minha ansiedade. A ordem das fotografias não é cronológica, mas elas também não contam uma história, são mais precisamente fragmentos de um tempo perdido. A exposição e o projeto dão um papel central à natureza. Eu sempre carrego a natureza comigo, e as árvores estão sempre presentes. Penso que é algo que se comunica às pessoas, as quais podem reconhecer as suas próprias histórias nas fotografias. Em resumo, quero que Jarred & Displaced seja um projeto que muitas pessoas possam conhecer, dele disfrutando e nele se descobrindo. As fotografias a preto e branco de 2016 são da minha infância, e as fotografias a cores são de 2017 e centram-se em memórias de adolescência. Tive uma infância cheia de aventuras, o que se pode ver na exposição. É sempre uma aventura encontrar o lugar perfeito para uma fotografia, como por exemplo o Old Tijikko, que se encontra num lugar secreto, e que é a única fotografia da exposição que não foi tirada na Finlândia. Através das cores atenuadas, lembro também as dificuldades da minha infância, embora queira que a exposição seja intemporal. Essa é uma das razões por que não há ambientes urbanos, apenas natureza. As fotos combinam indústria e natureza, a indústria encerra a natureza nos frascos, e com isso quero fazer as pessoas refletir. Todos os frascos são reutilizados, vêm da minha cozinha, boiões de tomate, de azeitonas… Ando sempre à procura de novos boiões para criar novas formas, mas já quase não os há na Finlândia. Fiquei muito feliz por encontrar novos boiões em Espanha, no supermercado.
Como funciona a exposição múltipla?
Uma inspiração do projeto foi também a técnica. Ao usar a exposição múltipla, tem de se pensar de uma maneira muito técnica, e isso reflete-se nas imagens. As fotografias da exposição foram feitas em duas fases: primeiro tiro uma fotografia do boião, que pintei de preto, e guardo a película fotográfica dentro do boião. Depois, quando saio para a natureza para tirar as fotografias, retiro a película fotográfica do boião e uso-a, ou seja, uso a mesma película fotográfica duas vezes. O desafio é colocar a película fotográfica da mesma maneira que na primeira fotografia, não podendo haver uma diferença de mais de 1 mm. Se fosse maior, apareceria demasiado no produto final. E o produto final não pode ser visto até que as fotos sejam reveladas, pelo que não há possibilidade de corrigir as falhas. Nas fotos eu não uso o Photoshop ou outro programa. Isso obriga-me a tirar fotografias com cuidado e com muita meditação. Obriga-me a parar e a preparar tudo a fundo. Também exige ter a câmara correta, os produtos químicos certos e faz-me tentar e falhar muitas vezes. Passei muito tempo a aprender esta técnica, que era nova para mim antes de iniciar esta aventura. Com a exposição múltipla não é possível alcançar a perfeição, coisa que aprendi durante o projeto e acho que é importante, pois assim estas fotos refletem melhor a realidade, que também não é perfeita.
Existe algum motivo lúdico neste projeto?
Sim, existe um, mas não está incluído nesta exposição. Trata-se de uma casa de verão onde passávamos férias quando eu era pequeno; espero que no futuro seja possível visitá-la. O projeto continua, há muitas memórias que quero revisitar, e como tal prolongar-se-á bastante. Este ano trabalhei muito em digital, que é uma técnica muito diferente. Há mais possibilidades de manipular a imagem, porque com o filme fotográfico só podemos tirar 10 fotografias de cada vez.
O que quer ensinar com o vídeo?
Uma vez que o projeto tem muito a ver com a técnica, eu queria fazer um vídeo que mostrasse o processo. O vídeo foi filmado em cooperação com Anders Lönnfelt, com o apoio financeiro da Svenska Kulturfonden.
Tem um novo projeto?
Sim, mas ainda não foi publicado. Irá conter vídeos, fotos e também exposição múltipla.