Laura Zubillaga

Sabia Madera: uma ponte entre a Finlândia e a América Latina

Laura Zubillaga é a curadora da exposição “Sabia Madera” e professora no Wood Program, da Universidade Aalto, na Finlândia. Com mais de dez anos de trajetória no programa, Zubillaga começou em 2014 como estudante e, mais tarde, tornou-se professora. Sua relação com “Sabia Madera” é especialmente significativa, já que a exposição teve início na Argentina, seu país natal. Zubillaga busca aproximar e divulgar o Wood Program na América Latina, uma região onde o interesse pela arquitetura em madeira e seu potencial para a sustentabilidade vem crescendo cada vez mais.

O que é a Sabia Madera?
Sabia Madera é a exposição realizada pelo Wood Program para celebrar seu 30º aniversário. Trata-se de uma retrospectiva que apresenta, por meio de maquetes, desenhos e fotografias, os trabalhos desenvolvidos pelos estudantes ao longo dessas três décadas. A mostra também destaca o processo de concepção, desenvolvimento e construção dos projetos. Um aspecto fundamental que destaco no programa é seu enfoque no aprendizado experiencial (hands-on learning), que integra teoria e prática, permitindo que os estudantes aprendam por meio do design e da construção. No Wood Program, trabalho em conjunto com o professor Pekka Heikkinen. A exposição apresenta, por exemplo, o “Cubo (El Cubo)”, um exercício introdutório no qual os estudantes criam um cubo de 20×20×20 centímetros como primeiro contato artístico com a madeira. Também estão em exibição fotografias e maquetes de diferentes tipos de projetos, como residências, saunas e pavilhões. Além disso, são apresentados projetos que propõem a ampliação em altura de edifícios dos anos 1970 na ilha de Lauttasaari, em Helsinque, como alternativa à sua demolição e com o objetivo de promover critérios de sustentabilidade. O nome “Sabia Madera (madeira sábia)” remete a trinta anos de experiência — um acúmulo de conhecimento e sabedoria. Ao mesmo tempo, é um jogo de palavras em espanhol: savia del árbol (seiva de árvore) é o fluido que transporta nutrientes essenciais das raízes até a copa da árvore. Isso confere à exposição um duplo significado.

Qual foi o primeiro contato do Wood Program e de Sabia Madera com a América Latina?
Ao longo desses trinta anos, diversos estudantes latino-americanos participaram do Wood Program, um programa de caráter internacional. Recebemos principalmente alunos do México, Brasil, Colômbia, Equador, Argentina e Chile. Nos últimos cinco anos, surgiu um grande interesse pela arquitetura em madeira na América Latina. Trata-se de uma disciplina ainda em fase inicial e, embora a região conte com abundantes recursos florestais, ainda não há uma trajetória consolidada na construção em madeira. Graças ao meu vínculo com a região e à possibilidade de me comunicar no mesmo idioma, diversas universidades e instituições entraram em contato conosco, e começamos a desenvolver projetos em parceria. A exposição Sabia Madera na Bienal de Arquitetura de Buenos Aires surgiu como parte do fortalecimento desses vínculos. Em 2019, participamos com uma mostra menor e, em 2024, fomos convidados a ocupar um espaço mais amplo por três meses. Além disso, temos realizado colaborações com universidades e diversas instituições no Chile, Uruguai, Peru e México, onde estamos desenvolvendo, entre outros, projetos de habitação social.

Por que você acha que a arquitetura em madeira está ganhando interesse na América Latina?
A arquitetura em madeira tem despertado um interesse crescente devido à sua sustentabilidade e à baixa pegada de carbono. Por ser um recurso local, também chama mais atenção. Países como a Finlândia buscam agregar valor à madeira não apenas por meio da construção, mas também prolongando seu ciclo de vida, com o objetivo de promover a circularidade e reduzir os impactos ambientais negativos da construção civil. Esses são temas que também despertam grande interesse na América Latina. Para apoiar esse desenvolvimento, há um forte interesse na América Latina em relação à educação e à capacitação de especialistas em arquitetura em madeira. O objetivo é formar profissionais capazes de projetar edificações que utilizem os recursos locais de forma sustentável e eficiente. As universidades desempenham um papel fundamental nesse processo.

Como a arquitetura em madeira pode servir de ponte entre a Finlândia e a América Latina?
A Finlândia desenvolveu uma cultura sólida de construção em madeira ao longo de décadas, especialmente na construção industrializada e em altura, um processo que teve início nos anos 90. Esse conhecimento pode ser compartilhado com a América Latina por meio de colaboração, para evitar os mesmos erros e acelerar o desenvolvimento da construção em madeira na região. Por outro lado, na América Latina existe uma visão diferente sobre a inovação e o uso da madeira. Há práticas locais que a Finlândia não conhece. Por exemplo, no Peru e no México, a madeira é combinada com técnicas tradicionais de arquitetura em adobe ou barro, o que contribui muito para a sustentabilidade no contexto local. Isso é algo que a Finlândia também pode aprender. Aprendemos por meio do compartilhamento.

Como tem sido a recepção da Sabia Madera?
A primeira exposição em Buenos Aires, durante a 19ª Bienal de Arquitetura, teve uma excelente recepção, com quase 100 mil visitantes. Não foram apenas profissionais e estudantes de arquitetura que compareceram, mas também pessoas interessadas em um primeiro contato com a construção em madeira. O atrativo da Sabia Madera e do Wood Program está na inovação do uso da madeira na arquitetura. Na América Latina, o Wood Program e a Sabia Madera têm despertado grande interesse, especialmente por mostrarem como a madeira pode ser uma alternativa sustentável em um contexto onde o concreto e o tijolo são os materiais predominantes na construção. Isso tem impulsionado novos laços de cooperação entre a Finlândia e a América Latina. A Sabia Madera foi vencedora do prêmio principal, o Grande Prêmio Expositivo da Bienal de Arquitetura, uma honra que demonstra que o trabalho dos estudantes do Wood Program ao longo de trinta anos tem gerado frutos.