Kari Korkman

Kari Korkman: No epicentro do design finlandês

Kari Korkman é uma das figuras mais relevantes do design finlandês. Ele é o fundador e diretor executivo do festival Helsinki Design Week, além de membro do comitê consultivo da Bienal do Vidro Finlandês (Finnish Glass Biennale). O Instituto Ibero-Americano da Finlândia entrevistou Korkman, cuja motivação sempre foi reunir os diferentes atores do setor, pois acredita que as ideias nascem do encontro e da interação. Na entrevista, ele fala sobre os valores do design finlandês, as tendências internacionais e o futuro do setor, onde o papel dos designers continua sendo importante, embora esteja em constante transformação.

A Helsinki Design Week é o maior festival de design e arquitetura dos países nórdicos. Conta-nos um pouco mais sobre os objetivos do festival e a sua importância no cenário internacional.
Este ano, a Helsinki Design Week (HDW) comemora vinte anos e, desde o início, tem sido um evento multidisciplinar. O principal objetivo sempre foi reunir profissionais criativos de diversas áreas, porque acreditamos que as ideias e novas abordagens surgem justamente nos encontros entre diferentes disciplinas. Sentimos que estamos a cumprir essa missão quando ouvimos que pessoas e empresas se conectaram graças ao nosso festival urbano. Com o tempo, o foco passou a ser cada vez mais a criação de uma comunidade. As redes de colaboração que a HDW criou são muito amplas, até mesmo a nível internacional, e reúnem todos os agentes que usam o design na sociedade finlandesa. Órgãos municipais, escolas e universidades, instituições culturais, empresas do setor criativo, comércio, indústria e ministérios… todos fazem parte da Helsinki Design Week.

Em 2025, foi organizada pela primeira vez a Bienal Finlandesa do Vidro, da qual fazes parte do comité consultivo. Podes contar-nos, de forma breve, sobre esta bienal e qual o papel do vidro no design finlandês?
Depois do festival HDW, expandimo-nos para a cidade de Raasepori com a criação da Bienal de Arte e Design da cidade de Fiskars. A Bienal Finlandesa do Vidro, realizada em Riihimäki, Nuutajärvi e Iittala, é uma extensão natural desse desenvolvimento. Cada festival cultural que criamos ou com o qual colaboramos inspira-se nos elementos únicos da sua região ou localidade. Nas décadas de 1950 e 1960, o design finlandês cresceu significativamente graças ao desenvolvimento da arte em vidro. A Bienal Finlandesa do Vidro baseia-se no legado do sopro do vidro finlandês e tem como objetivo reforçar o reconhecimento e as condições para o desenvolvimento do setor.

Quais são as características e os valores fundamentais do design finlandês?
Se as características do design finlandês fossem tão diferentes que se destacassem no mercado mundial, isso representaria uma grande vantagem competitiva. Infelizmente, já não é assim. Em todo o mundo, procura-se criar produtos que sejam sustentáveis, intemporais, simples, funcionais e que respeitem os materiais. A nossa verdadeira força está nos nossos valores. Eles desempenham um papel crucial, especialmente num momento em que o mundo enfrenta várias crises ao mesmo tempo. A Finlândia é uma democracia que funciona, temos consciência da nossa responsabilidade social e compreendemos a importância da educação e da inovação.

Quais destacarias atualmente como as principais tendências no design, tanto na Finlândia como a nível internacional? O design finlandês mudou de direção em relação ao legado de figuras como Alvar Aalto e Tapio Wirkkala?
Já mencionei os valores na minha resposta anterior. Gosto de acreditar que a sua importância está a crescer entre os consumidores informados e as empresas que contratam serviços de design, tanto na Finlândia como noutros países. A globalização está, em parte, a chegar ao fim, e a indústria manufatureira está a regressar às regiões que antes tinha abandonado. Uma consequência natural desse desenvolvimento é o aumento do uso de designers e profissionais do design nessas áreas industriais.

Como vês o futuro do design na Finlândia e a nível internacional?
Embora tenha mencionado a indústria manufatureira na minha resposta anterior, no futuro ela deixará de ser uma fonte significativa de emprego para os designers. Os recém-licenciados serão, principalmente, contratados por grandes organizações de serviços, como bancos, seguradoras e a administração fiscal. Hoje em dia, e no futuro, os designers são e serão essenciais para aproveitar a digitalização e criar melhores interfaces de utilizador, experiências de serviço e sistemas completos.

Conheces profissionais de design ou arquitetura de Espanha, Portugal ou América Latina? A quem destacarias?
Conheço vários, mas nesta entrevista quero destacar dois amigos designers que tenho em Madrid. Pedro Feduchi é arquiteto de terceira geração, professor e um excelente designer de móveis. Álvaro Catalán de Ocón é um designer muito visionário, inovador e corajoso, e tem sido um verdadeiro prazer acompanhar de perto a sua carreira internacional.

Que profissionais finlandeses de design e arquitetura, nomes emergentes ou projetos, recomendarias visitar?
No campo da arquitetura, posso mencionar, por exemplo, a Nervin Architects, onde trabalham Antti Soini, Leo Lindroos e Tuuli Kanerva. Fiquei muito feliz em ver, no evento 3 Days of Design em Copenhague, a exposição de designers finlandeses chamada 10 Days of Summer, onde apresentaram seus novos trabalhos Aino Michelsen, Aleksi Peltonen, Antrei Hartikainen, Elisa Defossez, Henri Judin, Jonas Lutz, Pinja Koskelin, Rasmus Palmgren, Salla Luhtasela, Samuli Helavuo, Studio Tolvanen, Tatu Laakso e Ville Auvinen. A Finlândia tem muito potencial, graças ao seu reconhecido legado em design e à excelente formação na área. Quando tudo se encaixa, surgem histórias de sucesso internacional, como a da agência de design Aivan, que se tornou líder no mercado de design de embarcações.