insalación de naranjas de Sari Koski-Vähälä

De Valência a Helsínquia: a memória de uma laranja que une territórios

O Instituto Ibero-Americano da Finlândia apresenta a exposição A geologia do cuidado, é um projeto da artista finlandesa Sari Koski-Vähälä que, a partir de um gesto quotidiano — beber sumo de laranja acabado de espremer — desenvolve uma reflexão poética sobre a memória, a identidade, a herança familiar e a responsabilidade planetária. A exposição inaugura a 10 de dezembro e poderá ser visitada até 16 de janeiro de 2026.

O ponto de partida da exposição é uma pequena ação doméstica com profundas ressonâncias afetivas. As obras apresentadas foram criadas a partir das cascas secas das laranjas espremidas pela própria artista e pela sua família finlandesa-espanhola. Estas laranjas são provenientes de uma quinta valenciana onde a família adotou uma laranjeira — uma atitude que liga o quotidiano nórdico à paisagem mediterrânica.

A artista recupera assim uma tradição transmitida pela avó espanhola aos seus filhos, La Abu, que acreditava que os netos criados longe da terra valenciana só poderiam incorporar verdadeiramente a identidade e o legado cultural espanhóis através do corpo: bebendo o sumo de frutos cultivados na mesma terra que moldou gerações. Este imaginário conecta-se com a iconografia clássica valenciana, como a alegoria pintada por José Pinazo em 1915, onde falleras (tradição oral) transportam frutos e flores num hino à fertilidade da terra. La Abu, também fallera, faz parte íntima desta linhagem simbólica.

A geologia do cuidado convida, não só, considerar o processo como imaginamos o nosso passado, mas também, à forma como projetamos as nossas memórias para o futuro: saberemos escolher um porvir desejável e agir para o alcançar? Compreender o que é valioso e cuidar disso? O cuidado surge assim não apenas como um gesto íntimo, mas também como uma posição ética e coletiva, um ato de responsabilidade para com a vida partilhada.

O percurso expositivo inclui a instalação Tulevaisuuksien muistelu (Recordar os futuros), na qual as cascas de laranja se desintegram lentamente, revelando a passagem do tempo e a fragilidade material. Completam a mostra as séries pictóricas Allegoria appelsiinille (Alegoria da laranja) e Allegoria maaperälle (Alegoria da terra), com pigmentos elaborados a partir das cascas que murcham na instalação e da própria terra onde cresce a laranjeira adotada.

Sari Koski-Vähälä trabalha a partir de uma perspetiva material expandida no campo da escultura contemporânea, criando instalações que crescem ao ritmo do consumo quotidiano e dos excedentes gerados pela sua própria família. As suas obras exploram a passagem do tempo, o desaparecimento, o agenciamento moral e a empatia, bem como a capacidade dos materiais vividos para transmitir humanidades sem palavras.

Formada no Instituto de Arte de Lahti (1997) e mestre em Arte pela Universidade Aalto (2010), a obra da artista integra coleções como a do Museu de Arte Contemporânea Kiasma.

A geologia do cuidado conta com o apoio do Taiteen keskustoimikunta e da Suomen Kulttuurirahasto.

A entrada é livre. Sejam bem-vindos a descobrir A geologia do cuidado!

Hoivan geología – A geologia do cuidado
Sari Koski-Vähälä
10.12.2025-16.1.2026