Diálogo entre Lily Díaz-Kommonen, professora de novos media na Universidade Aalto (Aalto yliopisto), e Jukka Savolainen, diretor do Museu de Design de Helsínquia.
Quarta-feira, dia 9 do corrente mês de Outubro, Jukka e eu tivemos a oportunidade de conversar sobre o Clube de design, que desde há já algum tempo se vem desenvolvendo no museu. A nossa conversa teve lugar no hospitaleiro e elegante café do museu, no número 23 de Korkeavuorenkatu, em Helsínquia.
(Lily Díaz-Kommonen) Jukka, podes explicar-nos o que é o Clube de design?
(Jukka Savolainen) O Clube de design é uma coleção de redes, algumas das quais estão relacionadas com o design ou com a utilização do mesmo. Como o design pode ser uma ferramenta de inspiração tanto no âmbito industrial como na vida pessoal, pode dizer-se que também constitui uma plataforma de discussão. Agora temos uma colaboração estratégica com a Universidade Aalto (Aalto yliopisto). Como profissionais na área da museografia, não somos nem profissionais em nem executores de design, mas na universidade existem muitos profissionais e muita experiência, pelo que a ideia é atrair este conhecimento e esta capacidade (de professores e de estudantes) para o museu, para poder criar melhor conteúdo e novos eventos.
Parece-me que o que dizes se relaciona com aquilo a que o académico em design Horst Rittel chamava «simetria da ignorância», que significa que pessoas diferentes têm acesso a distintos tipos de informação e conhecimento. Em vez de qualificá-lo como um obstáculo, Rittel via-a como uma oportunidade para a criação de novos conhecimentos. Estes conceitos de Rittel aplicaram-se à solução de problemas complexos, através da colaboração.
(Lily) Quais são os objetivos do Clube de design?
(Jukka) A ideia é atrair os designers e as empresas que já utilizam o design como parte dos seus processos. Também apelamos àqueles que ainda não o utilizam, para assim podermos discutir e conversar sobre as possibilidades que o design pode ter nos negócios e também na vida em geral.
(Lily) Por outras palavras, o Clube de design pretende abrir um novo espaço, tanto de forma teórica como de forma física. Faz-me lembrar um pouco o conceito do «objeto limítrofe» como o designaram Susan Leigh-Star e Geoffrey Bowkers. Eles referem-se aos «objetos limítrofes» como ferramentas conceptuais – também podem ser artefactos reais – que permitem a abertura às múltiplas perspetivas de diferentes disciplinas. Um exemplo de tais objetos poderia ser um globo terrestre, o qual pode ser interpretado e utilizado de forma muito diferente por um antropólogo, por uma historiadora ou por um artista.
(Jukka) É isso mesmo!
(Lily) Tens exemplos dos êxitos do Clube de design?
(Jukka) O êxito mais importante é o de se ter conseguido estabelecer um vínculo entre os designers e as empresas. Houve já algumas campanhas para produtos, por exemplo, que surgiram destas parcerias. As empresas têm oportunidade de conhecer os designers e estes vêm que podem trabalhar juntos. O Clube de design converteu-se, pois, em algo que conecta as pessoas. As histórias mais importantes são aquelas que descrevem como se estabelecem as novas conexões e como destas surgem novas possibilidades.
(Lily) Dito de outra maneira, o Clube de design alberga e redistribui as diferentes formas de conhecimento e as diferentes competências dos seus membros.
(Jukka) Sim.
(Lily) Como pensas que se pode melhorar o conceito do Clube de design?
(Jukka) Bem, por exemplo, o êxito que temos tido resultou numa rede muito maior do que o que esperávamos. Atender às necessidades de todos os que se juntaram não é uma tarefa fácil. Assegurar-nos de que se cumpram as expectativas e de que exista uma mais-valia como resultado de participar numa rede é um trabalho bastante difícil.
(Lily) E que tipos de empresas e de negócios se uniram ao Clube de design?
(Jukka) Há empresas grandes, como por exemplo uma companhia farmacêutica, empresas do setor de desenvolvimento de infraestruturas, firmas de design e pequenas empresas que apenas estão a começar. Há uma ampla variedade. E há também a ideia de que não são somente empresas que já utilizam o design nos seus processos mas também as que necessitam de aprender como utilizá-lo.
(Lily) Quais são alguns dos obstáculos que se colocam ao processo de inovação e como pode ajudar o Clube de design?
(Jukka) Um dos maiores problemas com que os novos projetos inovadores se confrontam, é que de imediato não é evidente qual pode ser o resultado comercial. O valor comercial de um produto não é óbvio desde o início; não sendo evidente, as pessoas têm medo de investir. Muitos destes projetos são trabalhos experimentais.
O que há de bom no Clube de design é que há colegas com os quais podes aprender. Podes ver os projetos que outros já realizaram. E podes ver como adquiriram ânimo para tomar um risco e investir em algo de novo. Dessa forma se pode aprender que, de vez em quando, vale a pena arriscar.
(Lilly) Por outras palavras, a colaboração nos negócios não se limita a transações monetárias, havendo também componentes e níveis afetivos e emocionais.
(Jukka) Certo.
(Lily) Como podem participar estudantes, artistas e designers?
(Jukka) Há pouco tempo lançámos um concurso para apresentação de propostas de exposições. Tal concurso contempla um prémio em dinheiro para o ganhador ou ganhadora. Deste modo os designers podem criar algo de novo. Proporcionamos-lhes a possibilidade financeira de ganhar algo.
(Lily) Bem, do ponto de vista da Universidade Aalto (Aalto yliopisto), também temos participado e beneficiado destas atividades. Por exemplo, o apoio financeiro e artístico do museu foi essencial para poder desenvolver o nosso trabalho com a instalação de realidade virtual sobre o Pavilhão da Finlândia na Feira Mundial de Paris do ano 1900, que se exibe na galeria principal.
Crês que seja um modelo que se possa exportar?
(Jukka) Existe muitíssimo interesse neste tipo de conhecimento. Ficamos muito contentes pelo facto de outros países poderem usá-lo. O modelo é de conhecimento aberto, open knowledge. Podemos compartilhar o que estamos aprendendo. Como organização, não dispomos da capacidade nem dos recursos para trabalhar nisso, mas alegra-nos muito que a ideia do Clube de design comece a surgir noutros sítios.
(Lily) Obrigada!
(Jukka) Foi um prazer!